O mundo acaba em 3 anos

maria
3 min readOct 4, 2023

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Essa informação não me bate bem. Quer dizer, o mundo permanecerá, o que chega é o clarão meteorítico que a humanidade produziu para findar a si mesma. A humanidade, ou meia dúzia de poderosos donos dessa imensa redoma de plástico venenoso que nos ataca a micro-gotas em cada refeição, munidos de uma trezentena de outros menospoderosos que endossam a concentração da riqueza e alienação da pobreza. A humanidade, ou a ganância humana, está provando ser raíz e juízo final da tragédia grego-jurássica a qual possivelmente testemunharemos, com efeitos dispersos e sócio-economicamente desiguais ao redor do globo.

Curiosa, metafórica e oracularmente, a principal força motriz do desequilíbrio ambiental é, pois, o petróleo, material naturalmente trabalhado em milhões de anos provindo de outras primitivas vidas — de fóssil viemos, em fóssil retornaremos. E eu poderia continuar desse texto uma denúncia e pesquisa embasada sobre o assunto a partir dos quase 4 meses de pós-graduação em gestão ambiental por mim cursados, mas tal como feito no curso, irei interromper essa ideia para focar em projetos pessoais, definição de foco único, mudança de carreira, seja lá a justificativa social que eu ofereço a meu desvario (e aos outros). Fato é que essa informação não me bate bem e rebate em outras más-novas as quais agora desabafarei sobre.

A primeira reação é a pulsão de morte: chegarei ao meu fim sem realizar alguns sonhos. Mais; sem talvez sequer ter chegado perto. Na minha vida pessoal, sem muitos detalhes, esse tem sido um ano de ruptura de expectativas nas principais esferas cotidianas, gerando não bem um congelamento mas um árduo processo de degelo. Ideias derretidas pela crueza do mercado de trabalho, da idade que vai passando (e com ela as obrigações), dos condicionamentos internos e externos que no passado definiram meu presente. Fato é que eu não to exatamente onde queria, como queria, com quem queria (será que essa liberdade toda existe para uma mulher em território latinoamericano?), e embora eu racionalmente me conscientize — de longe, não é o meu pior — , com certeza não me é de todo satisfatório. Novamente racional, entendo que minhas maneiras de adaptação já estão sendo colocadas em prática, e que essa queixa niilista diz sobre uma imaturidade de não aceitação daquilo que eu não posso mudar, a recusa em recalcar situações. Somente, talvez, esperar, plantar o que me cabe, enxergar com outros olhos, aprender a nadar nas adversidades e zelar para que a utopia dos sonhos se aproxime um pouco mais da realidade de escolhas possíveis.

O segundo rebatimento é, inversamente, a pulsão de vida: calma, a consciência da contagem regressiva minimamente pode oferecer o redimensionamento das escolhas e a emergência das prioridades. Não que dê pra meter o louco e inverter todos os cenários (em última irremediável instância, até pode ser uma saída), mas, como já feito algumas vezes, há vias de ajustar os sonhos e expectativas, provar do gosto da satisfação sempre e como eu puder, tomar centro da fragilidade diária que é viver e agradecer pelas homeopáticas felicidades que nos rodeiam. Com a serenidade desse discurso, percebo que, mesmo que eu não esteja nesse meu “auge” imaginário e provavelmente tóxico, existem belezas pequenas e grandes no meu caminho atual, que florescem possibilidades inexistentes caso eu estivesse vivendo em alinhamento total com a ilusão do ego. Lendo assim tá parecendo papo barato de praticante de yoga, vou repetir o pensamento com outras artes: há muita potência e prazer dentro de um processo de fermentação. Pensa em uma massa crescendo, um queijo sendo curado, a conserva “curtindo”, o vinho envelhecendo. Há esse saber e sabor da lentura que amadurece, encorpa, complexifica pela minúcia, pelo silêncio, não pelo escândalo do gozo.

O terceiro conglomera a dúvida de tudo e todos: logo na minha vez de viver? o tempo vai ser curto justo quando eu acabei a faculdade, estou mudando de rumos pela primeira vez, velejando no vazio à procura da terra firme? E se então eu aproveitar desse fato para forjar minha aposentadoria desde já? Viver de bolsa até que o mundo exploda, fazer arte pela arte, ciência pela ciência, não pensar em futuro coisa alguma? Mas e se passarem três anos e 2012 ainda não se realizar? Se a catástrofe mesmo só começar a acontecer daqui uns 20 anos, eu gastando o final dos meus 20 anos novamente com coisas sem retorno financeiro? Ah, mas o que importa é ser feliz, não é? Ou, será?

Eu prometi a mim mesma que iria diminuir a quantidade de textos inacabados que produzo e não publico, então fiquemos nesses três relatos de auto análise da semana. Propositalmente, um pra cada ano. Pelo amor de Deus que seja só um recurso literário.

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